Na cozinha, no quintal e no jardim : Livros: exercite o desapego

Abro meu armário de livros à procura de um título que estou disposta a libertar da minha estante. Tarefa difícil!

"A menina que roubava livros"? Não! Faz parte de uma nova fase da minha vida. Este fica!

"O romance da múmia"? Nunca! Este foi o primeiro livro que li e pelo qual me encantei quando eu estava na 7a. série. Fica!

"Longe é um lugar que não existe". Impossível! Richard Bach faz parte da minha história.

"As barbas do Imperador", "Eu sou Alice", " Isadora Duncan"? Nem pensar!

Tarefa difícil! Muito sofrimento!

Por fim, deixo sair, ainda que esperançosa de não serem aceitos, " Quando Nietzsche Chorou" para que outros possam refletir a vida com suas ideias. E mais, "Um affair freudiano"- uma experiência de Freud com a cocaína. Livro adquirido numa dessas livrarias minúsculas fisicamente, mas cheias de títulos alternativos. Sem problemas: vão Freud e Nietzsche fazer parte de outras mesas de cabeceiras.

É incrível o apego das pessoas com seus livros. Era assim com discos de vinil e os CDs de música, antes da chegada de outras mídias eletrônicas. Senti o sofrimento estampado na face de algumas pessoas e a sensação de liberdade de outras ao se "livrarem" dos livros que não gostaram ou não conseguem ir a diante na leitura, libertando-se da culpa de não chegar até a última página. Desapegam-se dos seus livros sem qualquer outro julgamento.

A leitura só faz sentido quando apresenta um enredo bem escrito e comentado com parceiros. Do comentário geral dos títulos a serem trocados, dos interesses individuais, do pensamento de Nietzsche e Sartre, da mitologia grega aos cartoons e os títulos que inspiraram produção cinematográfica, o teatro e a TV, até os assuntos sobre a política do momento, foi o que aproximou um grupo de pessoas que mal se conheciam. E em meio as discussões acaloradas, uma pausa para a leitura de pequenos trechos escolhidos a esmo ou antecipadamente selecionados.

Assim, aconteceu a I Troca de Livros do Chemical Coffee nesta última 4a feira, um final de tarde frio e chuvoso, clima excelente para a prática do bate papo e o consumo de um bom café.

Tortas, bolos e lanchinhos acompanharam o café coado no sistema HarioV60 gentilmente oferecido pela anfitriã Adelaine Alcântara, proprietária da cafeteria.

Simples assim: as pessoas foram chegando, se integrando e aos poucos formando uma roda de conversa que durou umas três horas, com risco de virar a a noite. No meio dos adultos, uma pequena de cinco anos fez uma troca: levou minha "A vaca Mimosa e a mosca Zenilda" que esteve comigo por uns 20 anos e me deixou, com pesar, seu "Ratinho do metrô". Aos cinco anos de idade já sofre em abrir mão de seus tesouros de papel. Sua irmã, uma adolescente que cursa o nono ano, vibrava com os comentários dos participantes repetindo continuamente "que coisa boa é isto, meus amigos precisavam estar aqui.E por quê não?

Em resumo, foi um final de tarde com muitas trocas -livros, pensamentos, histórias, visão de mundo, ideias, novas amizades conquistadas, e a proposta de novas edições do evento.