Entre as lembranças da minha infância estão as costuras com a Mamma, os piqueniques organizados pelo papai e o espírito comunitário estabelecido na rua em que morávamos. Lembro-me que no quintal da maioria das casas havia uma horta, um viveiro e um cachorro, em geral pastor alemão que protegia as casas. Cada um criava galinhas para depois dividir com todos. Papai era meio líder nesses assuntos, era ele quem mobilizava os vizinhos. Lembro-me também que havia um respeito à propriedade, isto é, ninguém entrava na casa de ninguém sem antes bater na porta. Os adultos se mostravam responsáveis por todas as crianças que estivessem na rua; estas, por sua vez, respeitavam as orientações dos mais velhos. As crianças caminhavam em grupos para a escola e os adultos revezavam nas caronas ou iam juntos até o ponto de ônibus para irem para o trabalho. Os valores eram muito claros naquela época e, unidas pelo dever de fazer o bem para si e para os outros, mesmo que houvesse alguma discórdia, as famílias se protegiam e mantinham o espaço comum - a rua - limpa, iluminada , arborizada, de forma que tivéssemos um ambiente saudável.
A vida mudou, os muros ficaram cada vez mais altos, as cercas elétricas e as câmeras de vigilância substituíram os cachorros, que foram para dentro das casas serem tratados como crianças. Ninguém mais se encontra na rua, cada um sai da sua garagem em horários diferenciados e ninguém mais cria galinhas no quintal e no máximo cultivam um canteiro de ervas. No entanto, graças ao avanço da tecnologia, o sistema de comunicação via WhatsApp tem proporcionado um reencontro de moradores de uma mesma rua ou bairro, mesmo que de forma virtual. Aos poucos os grupos formados para garantir a proteção de todos, de certa forma, têm aproximado as pessoas.
Na rua onde moro hoje, sinto-me no ocupando o lugar que outrora era dos meus pais. Há umas semanas recebemos uma mensagem de que uma nova família havia se mudado e que os telefones estavam sendo adicionados ao grupo da rua. Imediatamente todos passaram a enviar mensagens de boas vindas e colocando-se à disposição dos novos moradores; alguém faz um elogio, caracterizando o grupo como bem animado! Numa outra mensagem, alguém sugere que se faça uma festa para reunir a todos. Em seguida... Bem, para encurtar a história, sugeri: já que estamos na primavera, porque não nos reunimos para construir canteiros de flores ou uma horta comunitária?
E foi assim que tudo começou. Trabalhamos a manhã toda de um sábado ensolarado e o resultado satisfez a todos. As crianças também participaram, afinal somos nós, os adultos,os responsáveis pelo exemplo e a manutenção do espirito de comunidade, solidariedade e fraternidade para as gerações futuras.
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Os homens construíram canteiros de paletes |
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O primeiro caixote ficou pronto! |
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Enquanto isso, uma equipe se mobiliza para a montagem da mesa de almoço |
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Mesa pronta, é só se servir! |
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De volta ao trabalho, canteiros vão sendo montados |
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As mudas vão ocupando os espaços nos canteiros |
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Trabalho finalizado! |
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Flores, verduras , temperos... |
O sábado foi de trabalho braçal. Cada família contribuiu com alguma coisa: paletes, terra, adubo, muda de plantas, tenda, mesa, cadeiras, ferramentas, bebidas, comida... Todos agora são responsáveis pelo canteiro. Uma escala de rega foi estabelecida. O local tornou-se o ponto de encontro para as próximas atividades, bem como o lazer para a criançada.
Inspirem-se!
Angela Caruso